ACTIVIDADE "CONFERENCIA INTERNACIONAL SOBRE O CONSUMO DE ÁLCOOL E DROGAS ASSEMBLEIA NACIONAL"

 






CONFERÊNCIA INTERNACIONAL
SOBRE O CONSUMO DE ÁLCOOL E DROGAS
ASSEMBLEIA NACIONAL



SÍNTESE
FUNDAÇÃO EDUARDO DOS SANTOS – FESA









Luanda aos  20 de Fevereiro de 2015


SÍNTESE DA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE O CONSUMO DE ALCOOL E DROGAS

Com o objectivo de
Analisar a problemática do consumo de Álcool e a Toxicodependência em Angola, as suas consequências na saúde do indivíduo, da família e da sociedade, bem como apoiar as medidas de controlo e prevenção, prestação de cuidados aos toxicodependentes, a sua reabilitação e reinserção na vida social, a FESA (Fundação Eduardo dos Santos) abriu o ciclo de Conferências neste ano de 2015, sob o Lema Por uma Angola Sã, Livremo-nos das Drogas e da Toxidependência” que decorreu de 18 a 20 do corrente mês, no Palácio dos Congressos em Luanda.
A conferência que hoje termina, contou com a participação de cerca de oitocentos participantes e convidados entre Governantes, Entidades Eclesiásticas, Organizações Juvenis, estudantes, escuteiros, técnicos de vários sectores ministeriais e ex-toxicodependentes.
Para o êxito da conferência e, de modo a permitir uma profunda reflexão e ampla abordagem da temática proposta, foram convidados 17 palestrantes, sendo 8 nacionais e 9 provenientes da Itália (4), Brasil (1), Cabo Verde (1), São Tomé e Príncipe (1) e Moçambique (1) ; 3 testemunhas, 3 Presidentes de Painel e 15 Moderadores.

A participação do INALUD, Instituto Nacional de Luta contra as Drogas, da Organização Mundial da Saúde, dos demais atores das Organizações da Sociedade Civil e dos profissionais representantes de vários órgãos ministeriais,, bem como das testemunhas que estiveram presentes nestes dois dias de debate, proporcionaram reflexões profundas e de elevado nível científico e técnico, demonstrando a urgência na busca e materialização de soluções mais eficazes para promover a redução do consumo do álcool em todas as suas formas e a prevenção do uso de drogas e seus derivados.

A sessão de abertura abrilhantada pelo Canto Coral da Igreja Metodista, foi presidida por Sua Excelência, Rui Jorge Carneiro Mangueira, Ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, que destacou a estratégia multidisciplinar do executivo composto por duas vertentes: A primeira baseada na prevenção envolvendo fundamentalmente a família e a escola, enquanto a segunda centraliza-se no tratamento dos toxicodependentes em centros especializados, sendo que o Executivo aprovou e está em curso a construção do Centro de tratamento de Toxicodependentes na província do Bengo.
Ainda fazendo uso da palavra Sua Excia Ministro da justiça e dos Direitos Humanos frisou que o INALUD, está a preparar uma proposta de lei contra o alcoolismo, a actualização da lei 3/99 contra as drogas, assim como a proposta da lei que permitirá avaliar o dopping no desporto.
Terminando a sua intervenção, deixou aos jovens a seguinte reflexão adotada pela Assembleia das Nações Unidas na luta antidrogas: `` As drogas destroem vidas e comunidades, arruínam o desenvolvimento humano e sustentável e geram crimes. As Drogas afectam sectores da sociedade em todos os países em particular, o abuso de droga afecta a liberdade e o desenvolvimento de pessoas jovens, que são o recurso mais valioso do planeta´´.
Igualmente, na sessão de abertura foram apresentadas várias mensagens:
A primeira, da Associação Nacional de Luta contra as Drogas chama a atenção sobre as formas como os Órgãos da Comunicação Social estimulam o consumo de álcool, através da veiculação de certas campanhas publicitárias e a falta de informações sobre a prevenção do consumo, do conhecimento dos efeitos e dos métodos de tratamento da toxicodependência. Destacou na mensagem o impacto que o  projecto ``SOS ESCOLAS, FAMÍLIA SORRINDO E VIVA A VIDA SEM DROGAS´´ está a ter no seio da juventude e das famílias afectadas.
A segunda, vinda do Instituto Nacional de Luta contra as Drogas, proferida pela sua Directora, a Drª Ana da Conceição Graça, que realçou a importância de se trabalhar de forma integrada com outros departamentos ministeriais e com as organizações da Sociedade Civil porque acredita que unidos, maiores êxitos poderão ser alcançados e concretizados os objetivos preconizados pela instituição que dirige. Deixou claro que um combate enérgico a este flagelo pode ser levado a cabo através de fortes campanhas de educação para prevenção, com medidas jurídicas severas responsabilizando os seus autores.
Por sua vez, a FESA destacou na sua mensagem que sendo a Fundação uma entidade da sociedade civil, julga-se na responsabilidade de servir de plataforma de consenso a nível nacional para uma análise e implementação de estratégias de controlo, apoiando iniciativas que visem a promoção da vida e a prevenção da doença, tendo como pressuposto de que a saúde e o bem-estar devem constituir os alicerces para a edificação de uma sociedade equilibrada e saudável.

A Sessão de Encerramento está a ser presidida por Sua Excelência Ministro da Assistência Social, Exmo. Dr. João Baptista Kussumua e igualmente contou com as exibições da Orquestra Sinfónica Kapossoca e do Grupo Julu.

DESENVOLVIMENTO DAS SESSÕES DE TRABALHO
As sessões de trabalho contaram com a apresentação e discussão de 15 temas inseridos em 3 painéis e permitiram resumir as seguintes conclusões e recomendações:
CONCLUSÕES:

1.    O alcoolismo e o consumo de drogas é um problema que transcende as barreiras da Saúde Pública, o que requer uma estratégia de intervenção de carácter multissectorial, pois afecta o desenvolvimento do indivíduo, das famílias e das nações.
2.    Segundo a Organização Mundial da Saúde cerca de 3,3 milhões de pessoas perderam a vida em 2012, vítimas do consumo excessivo do álcool, equivalendo a 5,9% de todas as mortes e representando seis mortes por minuto em todo o mundo.
3.    Em 2014, o número de mortes associadas ao álcool foi superior à mortalidade ligada ao VIH/Sida, à tuberculose e à violência, segundo o Relatório Global sobre o Álcool e a Saúde da OMS, tendo sido considerado o terceiro fator de risco para a morbilidade, (depois da hipertensão e do tabagismo).
4.    Apesar de Angola apresentar maior consumo de álcool entre os países africanos que falam português, (cerca de 7,5 litros de álcool puro/ano/consumidor), o Ministério da Saúde no âmbito da implementação do PNDS ( Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário) tem gizado o fortalecimento e aperfeiçoamento no atendimento das pessoas  afectadas pelo consumo excessivo de álcool e drogas, com a criação de Centros Comunitários de Saúde Mental e preconiza a atenção em cuidados médicos e assistenciais no nível primário do Sistema Nacional de Saúde.
5.    A Sindrome Alcoólica Fetal constitui grave problema na saúde e desenvolvimento das crianças cujas mães consomem álcool durante a gravidez, acarretando transtornos físicos, de conduta, na aprendizagem e sua integração no meio social.
6.    O tratamento cognitivo comportamental parece ter um impacto significativo, na vida das pessoas afectadas pelo alcoolismo e utilização de drogas, sendo que afigura-se mais eficaz quando a pessoa afectada permanece em tratamento por períodos prolongados.
7.    Na abordagem psiquiátrica do doente afectado pelo alcoolismo e toxicodependência os factores subjectivos jogam um papel preponderante para a determinação de um diagnóstico correcto, de modo a permitir a instituição de um plano terapêutico adequado à pessoa afectada, não obstante constatar-se a necessidade de estudos e pesquisas mais aprofundados, neste domínio.
8.    O princípio da responsabilidade partilhada exige medidas sensatas e práticas para que todos os agentes, estatais e não estatais, possam actuar de maneira concertada, com o propósito de cumprir os objectivos dos tratados de fiscalização internacional de drogas.
9.    Os custos económicos, financeiros e não financeiros atribuíveis ao álcool e às drogas representam um fardo incalculável que se estende para além do impacto sobre a saúde do indivíduo afectado e sua família, trazendo consequências na balança económica e financeira do próprio estado.
10.                      Necessidade de se primar pela observância dos princípios da ética e da moral cívica, pela coordenação de ideias e acções, concernentes às matérias de publicidade sobre o álcool e cigarro, pautando-se pelo respeito à dignidade humana, em particular à exposição do género e à soberania, em campanhas de promoção de bebidas alcoólicas e do tabaco.
11.                      A educação no seio da família afigura-se como a maior e mais potente arma para a transmissão de mensagens e conteúdos educativos sobre as consequências nefastas do consumo do álcool e a utilização das drogas e seus derivados.
12.                      Dificuldade do diagnóstico real da situação sobre o consumo de álcool e drogas por exiguidade de dados estatísticos e falta de estudos sistemáticos neste domínio.
13.                      Reconhece-se a complexidade do controlo do tráfico de drogas das estratégias de movimentação do produto e as fragilidades nos sistemas de detecção dos traficantes e os mecanismos de transportação das drogas.
14.                      Necessidade de cooperação e de parcerias entre os países, com particular destaque para a CPLP, em matéria de controlo e definição de estratégias de capacitação para a gestão eficaz do problema do trafico da droga e consumo de bebidas alcoólicas.

RECOMENDAÇÕES:
1.    Prosseguir a reflexão sobre os padrões de consumo do álcool, numa perspectiva multissectorial e equacionar estratégias de combate locais, integradas em projectos  globais de controlo e prevenção da toxicodependência,  implementado mecanismos de monitoria e avaliação do impacto das acções.
2.    Garantir a criação de Centros Comunitários de Saúde Mental e de comunidades terapêuticas, de modo a garantir a assistência aos dependentes do álcool e das drogas , bem como prestar cuidados de base comunitária e assim reduzir o impacto social no seio dos afectados e de suas famílias.
3.    Criar e apetrechar clínicas especializadas para dependentes químicos, com o papel de acompanhar a recuperação do doente alcoólico e ajudar o individuo a refazer a sua vida social.
4.    Reforçar as acções de informação e sensibilização aos pais e, em particular às mulheres grávidas quanto à problemática do consumo do álcool na gestação, com o intuito de prevenir as doenças ligadas ao síndroma alcoólico fetal e assim permitir a geração de fetos saudáveis, o nascimento de bebés com saúde e livres das consequências do etanol no seu crescimento e desenvolvimento.
5.     Organizar campanhas de massificação para a consciencialização, sensibilização, promoção, prevenção para a assistência Psico-social, médica e saúde mental com participação multissectorial e sociedade civil.
6.    Incrementar as pesquisas sobre as novas formas de substâncias psicoativas e seus derivados, devido à sua composição modificada, formas de apresentação inovadoras e apelativas.
7.    Desenvolver campanhas integradas multissectoriais de informação e sensibilização personalizada e colectiva, com ênfase sobre os graves danos à saúde e implicações económicas negativas para o indivíduo e sua família, com vista a redução da procura por parte da população, em colaboração com entidades Privadas e Organizações da Sociedade Civil.
8.    Reforçar a parceria com os Órgãos da Comunicação Social em matéria de elaboração de conteúdos educativos sobre o álcool e drogas, bem como os canais, meios e horários de divulgação das mensagens.
9.    Aumentar e aprimorar as mensagens educativas no seio das famílias, nos locais de trabalho e nos estabelecimentos de ensino, desencorajando as crianças, jovens e adultos para comportamentos que propiciem o desencaminhamento e adoção de práticas nocivas à vida humana.
10.                      Aumentar o trabalho de prevenção na área do consumo e da criminalidade associada ao consumo excessivo de álcool e utilização de drogas.
11.                      Realizar estudos em parceria com as Instituições de ensino para o aprimoramento, tratamento, cruzamento e interligação dos dados estatísticos entre os diferentes sectores ministeriais e organismos ligados à produção, tráfico, venda e consumo da droga, com o objectivo de facilitar a elaboração, implementação e monitoria de uma Estratégia Nacional Integrada de Controlo.
12.                      Redefinir e aperfeiçoar as estratégias de actuação , bem como dotar as estruturas de competentes e sofisticados instrumentos e equipamentos nos pontos de controlo de passageiros, dos detidos, comerciantes e todos os intervenientes na cadeia do tráfico da droga.
13.                      Aumentar a cooperação com todos os Estados e organizações internacionais, com destaque para os países da CPLP, em projectos comuns de partilha e gestão de informação estratégica e operacional de controlo do consumo do álcool e seus derivados, bem como na luta contra o tráfico de estupefacientes.
14.                      Actualizar as leis existentes e criar condições para a criação de novos instrumentos jurídico-legais que abordem a problemática da produção, tráfico, venda e consumo de estupefacientes.
A FESA reconhece a excelente qualidade das palestras e moderação dos temas apresentados, a autenticidade dos testemunhos, assim como a contribuição dos participantes, o que enriqueceu os resultados da conferência e agradece a participação de todos quantos de uma forma directa ou indirecta contribuíram para o êxito deste magno evento.

Uma especial palavra de agradecimento ao Instituto Nacional de Luta contra a Droga pela excelente parceria ora estabelecida, pela organização e condução dos trabalhos realizados.

Os resultados da Conferencia Internacional Sobre o Consumo de Álcool e Drogas que hoje termina, resumidos nesta síntese, assim como os discursos proferidos, serão objecto de publicação em colectânea a ser disponibilizada oportunamente.
POR UMA ANGOLA SA LIVREMO-NOS DAS DROGAS E DA TOXIDEPENDÊNCIA,
A CONTRIBUIÇÃO DA FESA
                                  
Luanda, aos 20 de Fevereiro de 2015.